Seguidores

terça-feira, 25 de setembro de 2018

REVOLUÇÃO

Fervem as opiniões, saltam as discordias, as pessoas se agridem.  Onde existia paz, agora é cultivada a intolerancia.
O medo suplanta a ironia dos desajustados, espreitando-se pelas frestas, algoritmos de sussurros, buscando adivinhar segredos, em vão.  Todos a tatear no escuro de possibilidades, cercados pelo véu de suas próprias incertezas, magoadas pelos vestigios de seus egos à busca.
Caleidoscópios sem formas, porque não o complemento, ou a ausencia da fala.  Simplesmente o ouvir, como tão só um complemento, não simples sinal de respeito.  Talvez eu também me careça da sensação de poder permitir ao outro, fechada estou em minha certeza.  Mas nao lhe nego o amor, nem lhe insinuo a falta de luta, grotesco e manipulador.  Tirano, profundamente só.  Não sei se se saiu de um pensamento vil, ou de um verdadeiro momento de inferioridade, dentro de um átimo em que o dito é tão absurdamente dilacerado, que nada mais o há de ser.
Sobra-se a liberdade.  As relações humanas são muito complexas, e se nos escapam pelos dedos. Brincam com nossos sentimentos, estimulam nossa psique, através de letras que vão se acumulando à nossa frente, tomando a forma aleatoria de conteudos, muitas vezes fora do alcance de nossos propósitos.  Não sabemos do que nos virá como resposta, e o resultado pode ser desolador.
Em se partindo apenas de uma verdade, frágil, dialética, complexa, sensivel a varios fatores externos, mas tão somente minha.  Porque tanto se lhe doi, a tal ponto de me machucar.  Minha única sensação é de que todas as defesas se armam e erguem, e não importa quem eu seja, ou represente.  É preciso atingir o campo das minhas ideias e feri-lo, sem que eu seja indenizada pela mácula causada, ainda que manifeste minha dor.
Absolutamente covarde e grosseiro, valores humanistas relegados, de que vale exatamente o conservar-se digno, na postura falha e no respeito parco.  Na não identificação da postura reticente, do dano perdido, e palavra que crava.
Voce errou. Sem redenção para seu lapso.  Eu, provavelmente, perdoarei, por índole.   Ausencia de remorso, ou mesmo a apatia dos que já conhecem as vicissitudes.  Não que me isente de marcas que cravem sinais, não outros que de abstinencia.
Percorro caminhos novos, onde vozes, antes uníssonas, se levantam a um coro, já conhecido de gritos atordoados, e me preservarei.  Pois diálogo não há, em um mundo onde reina a escuridão.  Se possivel, num redemoinho em sombras, quero vislumbrar a possibilidade de Sol, e abrir bandeiras, com toda minha eloquencia.  Na veracidade do meu cepticismo, alcançando o amanhã.  Não perdendo de vista o compasso arduo da historia.
Caminhando, a passos largos, por uma estrada longa, extremamente longa, onde o começo marca uma jornada, sem nenhum fim definido.  Que é exatamente a revolução, que estará por vir.

domingo, 5 de agosto de 2018

UMA PAUSA PARA A POESIA

Tao vazio quanto,
Preenchendo espaços.
Revivendo lembranças.
Nenhum dia perdidas.
Sigo sozinha.
Até o compasso de um relogio que me guie
E digue o fim.
Sem mais
Como o alento de uma poesia
Ou um pranto sufocado.
Uma redenção prometida
Pela vontade do somente ser.
Vago.  Entre tristezas e alegrias.
No meu encontro, comigo mesma
Desde que o que já não fui
E do que agora serei, despida.
Na poesia de um verso.
Nas esperanças da solidão comprometida
Nas veias do incógnito
Caminhando na areia, ou sentindo os passos.
Perene ou selvagem, conflito ou calmaria
Sem opção outra, que me levar à corrente
Do prometido por cumprir
Do fadado a ser
Do tocar de um telefonema que cesse.
A escuridão de meus sentidos
E se me abra a luz da dor,
E o alcance do meu destino.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

SUOR

O suor escorre pelo meu corpo, sem controle.  Um atestado aos meus nervos  à 
flor da pele.
Tento controlar meus pensamentos, e manter-me inteira. Uma haste a não se quebrar, balançando contra o vento.
As perspectivas chegam a me apavorar, quando penso no futuro.  Busco, desesperadamente, uma metáfora que não desague em um lugar vazio, e que dê espacço a fantasia  Num lugar regado por um rio plácido, margens sem turbulências, eu, somente, a mirar o inevitável curso dos dias não perdidos.
Mais suor, como se não bastasse, água que se despreenda de mim.  Que evoque meus pensamentos subterrâneos, e os desgarre em forma de dor que me impulsione, o quanto dependa de mim.
Uma revelação me atinge, e me dá esperança, e talvez me faça, ainda que um pouco, dona de mim.  Sou ainda corpo, ainda que não menos susceptivel, mas dona de mim mesma.
As vicissitudes da vida são tantas, e eu lhes gostaria de não ser pequena.  Busco respostas, tateio caminhos, procuro esperanças.  Algumas serão vãs, e me conduzirão ao eterno caminho da expectativa não comedida, de que nada me vale, na avaliação incorreta do momento presente e do material humano.
Deve-se nada a ninguêm, principio básico.  Sim, aos filhos, nossa continuidade, propagação continua de um espectro genéti  co.  Neles concentramos nossas forças e alegrias, tormentos e reciprocidades.  De resto, não conheço o verbo, e nem sei se o espero.  As relações humanas são complexas e resumidas, carregadas de suas proprias convenções e erros.  Por vezes, acertos casuais.  Casualmente, linhas de raciocinio confluentes.  Inevitavelmente inequívocas, sem que eu não deixe de alimentar um resquicio de esperança por me nutrir delas, pelo menos a certo nivel.
Desconheço o futuro que me aguarde e, que me traz, mais do que nunca, o desvencilhar ao apego do que me fiz fiel e necessária, por puro egosmo, e a cujas asas protegi.  Onde luto, hoje, para que, elas, tímidas, voem, porque acredito, ao fundo de minhas contradições, de que não exista caminho outro de que não a busca pela liberdade, seja ela expressa nas cores em que forem e sentimentos que se impuserem. Existe o reconhecimento, tão como a morte, e a visão de paredes vazias e dias solitarios, agora em se mais, absolutamente calados, sem retorno, com minha total aceitação.  Não poderia ser diferente, havendo mesmo um choro guardado, que se despede em um ato longo de um fim de espetáculo, que durou o ensejo de sua vida pulsando.
Sobra-me o trabalhar e uma casa, nem tão somente minha, crianças, intimidade, projetos, falas, dinâmica, e o vazio do meu eu, a qual se abre um novo pano. Qual será meu novo papel, quanto dele sobreviverei, e se minha tristeza dará cabo de suplantar as promessas dos desafios dos dias que virão, inexoravelmente.
O olhar do futuro me estende a mão com timidez, houvera ela a mesma com que convivi toda a minha vida.  Não assertiva ou forte, hesitante, marcada por dores, mas não resignada a se entregar.  Ainda com a perseveranca dos que, aqui, chegaram.
Enxergarei conquistas ?  Haverá alguém com quem pensarei dividí-las, ou navegarei pelo curso da solidão reconhecida ?
Ao todo que não conheço, um brinde e muitas lágrimas.  Alegria e pavor.  Paralisia e vitalidade.  Resta-me saber o que restou de mim.   




                                                          .

sexta-feira, 29 de junho de 2018

DELIRIO

Cinco homens e um desejo, personificado em minha pessoa.
So voce me acarinha, no seu ciume disfarcado em promessa.  Correspondo, porque sei que que quero seu corpo, meu dominio, e sua vontade.
Leve-me, e serei sua.  Mas antes gozarei os olhares, e as perguntas contidas, mutuas em cada um dos rostos que observam, furtivos, as linhas do meu corpo, fantasiando um gozo proibido, ou nao, em sua imaginacao.  Diferentes, cinco homens, e eu, uma so mulher, a espreita, coincidindo-me em cada atimo do furtivo, um pouco de mim a cada um.
Brinco na minha feminilidade, na audacia do espontaneo, no jogo de palavras minimo, que sugere o porque de respostas.  Imaginem-me como puderem, despida a noite, jeans ao dia, esvoacando meus cabelos, namorada de um amigo.  Quem seria eu, se uma fila fizesse, e a todos beijasse com o prazer do gozo ?  Sem pensar em quem, apenas me entregando, sem relutar.  Porque sou mulher, e a mim basta e pertence.  Rodeem-me com agrados, e palavras simples e flores, pois quero cada um de voces, a seu tempo.  Os cabelos cacheados, o bigode moreno, a masculinidade, e o alcoolatra.  Enriquecem meu poder de cobica e entrega, e minha vontade de ser femea, transformada em delirio.
Meu amor nao nego, o esta com voce, e nem ao menos o pergunto, meu paradeiro.  Preciso do seu silencio e desafio, posse e sentidos.  De sua mao, que me envolva nos momentos certos, ainda que raros, mesmo que eu os faca lembrar.  Que lhe arranque os gemidos, aos prantos, e o sorriso, ao largo, eu que so quero que voce me abrace.  Junte-se a eles, no que de voce e unico, seu cheiro que nao conheco, mundo paralelo que vou cruzar ao meu, colidindo minha vida a sua.  Porque lhe quero referencia dos meus desejos, homem que me abrace, me faca sentir dono, na mais completa contradicao do ser.  Na sua incerteza e inseguranca, penetre na paixao e dela nao se desvie, me querendo nas noites de chuva e dias de Sol, somente eu, presenca e sina.  Enlace-me sem porens e decreto, porque vou estar la para me deixar levar.
Deixe-me pedir que gozemos juntos, varias, inumeras vezes, por nos dois. Cavalgar no meu ritmo numa viagem desenfreada, com voce como companheiro.  Nao me pergunte onde chegarei, de dentro de suas certezas.
Saiba que venceremos o tedio, a mesquinhez.  Que nao sonharei com voce, que estara presente, na realidade do dia a dia.  Seus cabelos me acarinharao, e seus pensamentos fluirao para meu ser.
Amor ou paixao, nao sei.  Eram cinco homens.  Adorei de que me desejassem.  Mas foi a voce que escolhi.  Assim, nua, me entrego, e e seu semen que correra por dentro de mim, desafiando meus sentidos.

sábado, 2 de junho de 2018

ÁGUA ( DE TEL AVIV À CELA DE LULA )

Talvez se eu tivesse a pena certeira de Fernando Pessoa, o que, seguramente, não tenho.  Ou o verso irônico de Manuel Bandeira.  O estilo decorativo de Olavo Bilac, ou passasse por alguma depressiva nuvem pelos céus de meus pensamentos, como Álvares de Azevedo.
Ou talvez fosse eu mesma, me recusando, ou não, a admitir de que a inspiração se me falha a vir à consciencia.  Ou se me venha a trazer perguntas existenciais e metafísicas, que me atordoarão o espírito, espantando meus leitores.
Por isso, queria regar um jardim, em vez de pensar nas bombas na Síria.  Mas os gritos das crianças sempre ecoam em meus ouvidos, enquanto a água ainda abunde no planeta.  Hipóteses darwinianas à parte, não sabe a causa do inferno em vida.
A Palestina bate à minha porta, sussura na  consciencia de todos os algozes que nela habitam.  Que não se iludam, não são só judeus.  O sangue de mortos é regozijo e prato de comida para muitas guerras, algumas menos expostas, na vida que segue um jogo.  Mas ainda rego minhas plantas, porque esse é meu destino, e dele não posso fugir.
Meu berço, pais, em frangalhos, destituído, pedindo a guerra no seu solo e ventre.  A quem a coragem, o amor ?  De onde as armas e para onde jorre o sangue, pois esse será o rio do desespero futuro, ja que nada sera devolvido sem luta.  O Brasil esta devendo ao Brasil, como ela, um dia, profeciou, e como ele o sabe, na sua diaria cela de cadeia.
O planeta passando por uma revolta ciclica, mais um começo de seculo aterrador e instavel, com ameacas de guerras mundiais, no meu jardim que quer água.  Naquela crianca que quer descer o morro para estudar, no homem que quer cruzar a fronteira para trabalhar, e no velhinho que quer tomar sua vacina.
Somos uma ridicula porcao de humanidade incredula, que teve seus bracos e pernas amputados, e seus sentidos dilacerados.  Por querermos o óbvio, que seria, simplesmente, o viver, e não mais.  Sem cobiça, mas com alento.
Quero sentir um ritmo desesperado de convulsao e desespero, me revoltar e gritar em desprezo a tudo que sufoca.
Conseguir identificar uma peça importante, num tabuleiro que se volte para um objetivo final, mais conclusivo e revolucionário, vindo da dor da entrega, e da constatacao da subserviencia.  Pois nao ha sentido a vida num mundo de seres humanos infimos.
Afetos que tentam, de alguma forma, abarcar a dor do que se ai esta.
Pensamentos que voam, dedicados, no Brasil, a figura de um grande homem, encarcerado por sua grandiosidade.
Uma inquietaçao profunda, num final de noite, como se dela Fernando Pessoa soubesse tudo, e eu nada.  Provavelmente, ambos soubessemos pouco, e ele so fosse menos angustiado do que eu.  Muito menos, pois, segundo ele, um dos problemas humanos estaria em nossa eterna procura por empatia.
Liberdade.  Nao apego.  Sofrimento.  Agua.

domingo, 25 de março de 2018

APARTHEID LIBERDADE ( DE BELÉM A HOD A HOD HASHARON )

Olho a cidade de Belém com seus olhos, e vejo um muro que separa pessoas e sonhos.
Tão mais feito em concreto, símbolo do apartheid humano, que se abate sobre mentes enfurecidas, indignas em seu direito de oprimir.  Criamos um elo, em que leio suas palavras de indignação, e respiro as sílabas de sua vivencia conturbada.
Precisa-se o estar, chaga exposta, exposição de todos os martirios.  O porque dos que, a eles, não relegado.  Pelo não contato com a dor, o amorfo, riso frouxo, hipocrisia condescendente, a propria expressão da falta de generosidade humana.
Precisaríamos todos estarmos em Belém, e presenciarmos a rotina das crianças que desafiam a autoridade?  De quantas palestinas destemidas que se ergam os braços, nos rostos em que cravam seu destemor, sem renuncia.
Apenas crianças, ou mais uma placa.  Proibido seguir em frente, risco de morte.  Ao que se contraponha a vontade de liberdade da minha cidade, que grita, aos brados, seu destemor e juventude.  Sem barreiras, seu único limite, como imaginação é a propria credulidade.
Nao sou mística ou, tampouco, boa.  Apenas tento ser justa.  Como voce o foi, nos dias em que seu cartão de visita não era o mar, mas um muro, que lhe prometia a divisão de sonhos, o estancar da liberdade, e a opressão das liberdades individuais básicas, que deveriam ser concedidas a todos os seres humanos.
Outros se propõem a grandes planos, e os engendram a partir de falsos axiomas.  O que lhes deveria causar revolta é motivo de júbilo, porque se apoia na sua perspectiva individual de contentamento, tão somente.  Para eles, o muro existe enquanto ficcional, num projeto longíquo, que lhes passa despercebido, quando disfarçado de realidade.  O que pregavam resultou na memoria afetiva de um quadro de ilusões documentado, em nada real.  Não se vive o conflito.
Pois foi você que escolheu uma parcela tão ínfima da sua vida para se entregar, como se a realidade lhe tragasse os pulsos.  Jovem, mas carente de coragem de formular suas perguntas.
E é você que se entrega a um projeto de futuro, dançando ao som dos ritmos etéreos, como se o tocar o chão lhe fizesse doer os pés.
Medo.  O que paraliza, e causa o não pensar.  Dor, que estanca, e fere os pulsos.  Impotencia, que jorra, mesmo sem causa definida.
Naquele muro à frente, voce se espelha, e lhe vem a cabeça uma poesia de Fernando Pessoa.  Talvez pense em mim, mas é tarde, e os anjos de nossas vidas já consagraram o desencontro, desde há muito.  Sobra-lhe a injustiça social, e o caos político.
Você, novo companheiro, viverá as agrurias da contradição, para deixar sua carne exposta.  No muro em que sua imaginação penetrar, de cada vez de que uma injustiça, fatalmente, bater à sua porta.  Resta saber se voce a abrirá ou optará por se tornar um vaso, belo, mudo, cerâmico.  Como tantos.
A vida passa, e os destinos correm, como os rios dos homens tristes.  Vai-se meu pensamento, sento à luz meu coração.
Sinto-me perdida, como se soubesse, de antemão, a triste realidade dos fatos.

segunda-feira, 19 de março de 2018

TIROS CERTEIROS ( TRIBUTO A MARIELLE )

Hoje sonhei com Marielle, na qual não havia olhos de sangue, nem a boca de estupor.
Seu sorriso me trazia a liberdade que eu havia, outrora, sonhado.  Desfilava pelos becos, e ouvia, ao longe, os tiros, no silencio do choro das criancas aterradas.  Nela, que não mais vive.
Antes de ontem, ouvi Marielle cantando, em uma musica de ninar.  Embalava todos os anjos do mundo, numa melodia singela, seus sons docemente definidos, na procura do não mais do que o agora.  E o choro se foi contendo, a espuma do mar ficando mais fraca, límpida, como se, somente, saboreasse a areia.  E, então, parei.
Mas foi, há uma semana atrás, que vi Marielle, a passar pelo outro lado da calçada, a me acenar, festiva.  Contou-me de que havia recuperado um programa de assistencia para jovens da favela, fato promissor, num pais decadente, realidade reles, futuro ignobil.  Nossos jovens preservados, de alguma forma, me diria ela.  E senti, com empatia, as forças de sua conquista, na decisão de seu caráter, e na importancia de sua conduta, firme e direta.
Na verdade, quase me houvera esquecido de que nos falamos pelo telefone, e seu júbilo pelas conquistas adquiridas, ao longo dos meses, era grande.  Júbilo é uma palavra que se mescla à autodeterminação do não sucumbir.  Pois apenas o forte e idealista consegue recolher, das migalhas do cotidiano, o prato que lhe alimenta as ações futuras.  E assim nos divagamos, realisticamente.
De total improviso, surgiu aquela mesa de bar, num final de sábado, pedindo descanso.  Dançamos, cantamos e sorrimos, porque a verdadeira luta se alimenta de boas catarses.
Momentos não nos faltaram.  Preciosos, válidos.
Mas, à voce, principalmente, deva ter faltado o bem mais precioso.  Seu direito à vida, de acordo com suas proprias escolhas, e delirios.
Tenho comigo que, aos predestinados, o peso da responsabilidade do coletivo, que é, por demais, oneroso.  Mas voce o fazia bem.  Provavelmente por ter encontrado muitas de suas proprias respostas individuais, ao correr de sua vida, de trajetoria tão curta.
Minha imaginação tenta percorrer, em flashes, a cena amedrontadora, em que um carro emparelha com o seu, dispara tiros certeiros, e é engolido pela escuridão da noite.  Sobram mortos corpos, o seu e o do rapaz.  O destino de balas que dilaceram uma vida em centésimos de segundos, incompreensiveis para derrotar a sequencia de uma existencia tão rica.
Imagino sua morte, e o sangue que, dela, jorrou, e o que ele representa.  A entrega, a impotencia ?
Somos pequenos diante da morte, que se resvala, traiçoeira, à espera, em qualquer beco.
Porém, o grande paradoxo é o legado da vida que existe, para alem da visão da morte.  Não queremos aceitá-la, que não se vá, dilua, em ideia, força e pensamento.
Como se Marielle estivesse presente, na ausencia do que não é.  Na morte que rejeitamos, por não querermos o fim.  Por sabermos a esperança.
Velas que não se apaguem.  Mortos em memoria, que não se sacrifriquem seus corpos.
Um minuto à vida, para que a tristeza não se faça maior.
Marielle, como não me morrer ?

sábado, 24 de fevereiro de 2018

VELHICE ( O PERCEBER DOS DIAS CONTADOS )

Era uma vez aquela moça que morava em seus sonhos.  Cabelos molhados, e um discurso de poesia em sua cabeça.  Fragmentos do passado, num mundo em que se alternavam as agrurias do presente.
Espelho na mão, dias contados para o futuro incerto, apenas a certeza dos momentos a se passarem, indefinidamente.
Num átimo, a realidade batia à porta, pedindo o imponderável, presente a desaparecer.  Mas a poesia se sobrepujava ao medo dos eternos ruidos dos relogios que não param ou, tampouco, se escondem.
Deixem-me ir, e não estarei sozinha, apenas somente em face com a morte.  Abandona-me o sorriso dos tempos e noites mal dormidos, já que não terei alguma resposta, se preciso me fôsse perguntar.
Por onde se sinta o aroma do verde na relva e ar puro que me rodeie, conheço os pressagios do futuro, em minhas rugas que chegam a denunciar o correr dos meus dias, brigando em contornos suaves, pela geografia de meu rosto cansado.
Como se soubesse, em que minha carne clame por antigos desejos.  Sigo ao vento, alegre, pois não posso ser outra.
Viver, somente delirio, fato antes não consumado.  Morrer, brincadeira no estar vivo.
Pensando no antes, a porta aberta à carruagem, meu primeiro baile à fantasia.  A orquestra a tocar e eu, leve, a me deixar levar sob seu ritmo.  Rodar, rodar, me desgovernando, meus sentidos desafiados.
Morrer, o que, de nada restará.  Aos pássaros seus cantos, as orgias suas preces e, a mim, o perpassar de uma estoria que se acabou.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

AGENTES DA PAZ ( ISRAEL E PALESTINA )

Moro em Israel há trinta e quatro anos.  Longos quando penso nas inúmeras vezes em que fui perguntada porque abandonei o Brasil, e o que motivou minha vida para cá.  Tenho respostas que foram se alterando, ao correr dos anos.  No cerne da questão, a única certeza é de queria uma mudança em minha vida.
Fui atraida por Israel, porque gostaria de rever o pais que havia conhecido, somente por dois meses.  Apesar de ter uma formação judaica, não tenho apego a nenhuma religião, sou fundamentalmente contra a luta por ocupação de terras, e não justifico o sacrificio de inocentes.
Costumo dizer que sou uma pessoa privilegiada.  Gosto do pluralismo, das diferenças que, a meu ver, se completam.  De que meu primeiro grande amigo, em Israel, tenha sido um palestino.  De que tenha tido, como companheiras de classe, duas árabes cristãs, com as quais dividi experiencias e incertezas profissionais.  De que eu inicie, em pouco tempo, um trabalho com uma ONG que agrega jovens israelenses e palestinos.  De que meu mais novo aluno seja árabe, e compartilhe comigo sentimentos de rejeição por parte de seus colegas.
Meu privilegio vem do fato de que colho os frutos certos pelo caminho.  Em que sei que um diálogo franco, e sem rótulos, me ajuda a colocar uma pequena pedra na construção de um mundo que não divida, mas que seja apenas parte de uma casa que abrigue a todos.
O lugar do odio e para aqueles que se outorgam desafiar a grandeza da vida, no seu presente.
A mim cabe celebrar o fortunio das diferenças, no belo em que consiste o aprender de não se estar só.
A paz só virá dos que se concentrem em ações positivas, sejam na crítica ou no pragmatismo de seus feitos.
Um brinde aos muitos que permeiam a mesma vontade e decisão.  Aos agentes da paz, sem nome, que construirão o futuro.
De Israel, Shabbat Shalom.   Sejamos corajosos em nossa escolha para o bom, não importando as vozes retaliadoras que se interponham pelo caminho.

sábado, 20 de janeiro de 2018

O NÃO CALAR DE NOSSA VOZ ( LULA VIVA II )

Moro fora do Brasil há trinta e quatro anos, não suficientes para apagar as marcas indeleveis da ditadura militar.
O mundo digital moderno nos faz acreditar de que temos o mesmo termômetro emocional para com as barbaries as quais não presenciamos, mas pensamos saber seu sabor fetido.
Estive em Sao Paulo, cidade onde nasci, durante quase todo o mes de abril, em 2017.  E foi ja no fim dele, no dia 28, que experienciei uma cena da qual não posso me olvidar.  A repressão covarde a uma passeata pacífica, que saiu do Largo da Batata, em direção à casa do presidente golpista Michel Temer.  Bombas que causaram a dispersão dos manifestantes, policiais os perseguindo pelas ruas adjacentes, e até mesmo atacando os que voltavam ao Largo da Batata.
Foram momentos extremamente angustiantes para mim, que não conhecia a violencia que se instalou, novamente,no Brasil.  A ela chamei ditadura, com a certeza de meus olhos que arderam, por dois dias.
Eis-nos aqui, defrontando o panorama incerto do que virá a acontecer no proximo dia 24 de janeiro, em Porto Alegre.  Nao tenho ilusões de que o poder de exceção nos deixará gritar nosso grito de liberdade, sem tentar fazê-lo calar.  Mas acredito nas vozes dos milhares que não se intimidarão.  Porque o medo não é maior do que a fome, e a constatação de que direitos basicos não possam ser usurpados.
Lula viva, para que se torne realidade a voz do povo.  Que se levante um coro uníssono de todos os brasileiros, que sabem estarem sendo traidos.
Que recuperemos nossa dignidade, ceifada pelas mãos de tiranos, aos quais a vida humana e barganha para se chegar ao poder.
Para que eu possa sentir que, em meus olhos ardendo, valeu a certeza da vitoria.
Eleição sem Lula é fraude.  Rumemos a um futuro que nos traga um sorriso de novo ao rosto, apesar de toda a dor, a nós, impingida.