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sexta-feira, 24 de março de 2017

CERIMONIA DE DIVORCIO ( NOVEMBRO, 1996 )

Era uma segunda feira de verão, um calor insuportável.
A data para a cerimonia de meu divorcio havia sido marcada com varios meses de antecedência, o que me gerou muito mais ansiedade.
Viviamos numa cidade perto de Tel Aviv, quando nos separamos, mas como haviamos nos casado no Rabinato de Jerusalém, foi para la que a audiência foi marcada.
Depois de viajar por algumas horas, adentrei ao Rabinato, cansada e nervosa.
Apesar do horário estipulado, tivemos que esperar por, pelo menos, mais uma hora e meia.  Isso depois de termos sido atendidos por um funcionário, que mal sabia nos orientar para onde seriamos encaminhados.
Foi com uma sensação de temor que adentrei à sala, onde vi varios rabinos.  Obviamente, meu ex marido entrou comigo mas, para minha surpresa, foi pedido a ele que se mantivesse ao fundo da sala.
A partir desse momento, teve inicio o martirio.
Três rabinos comecaram, alternadamente, a falar trechos em hebraico, interrompidos sempre pela palavra megureshet, cujo significado, em hebraico, é banida.  Falavam algo, interrompiam, gritavam banida, em coro, voltavam aos seus trechos, quiçá bíblicos, numa avalanche que soava, aos meus ouvidos, como uma torrente sem fim de impropérios.
Essa agonia durou o tempo suficiente para eu me sentir totalmente humilhada e enfraquecida, enquanto meu ex marido, calmamente, assistia à cena de camarote.
Meu divorcio aconteceu há 20 anos atrás, e nunca mais me esqueci da sensação de abuso psicológico a que fui submetida.  Ao julgamento feito pelos rabinos de que a mulher que procura sua liberdade, nessa situação, não deva ser respeitada.
No mundo moderno, em que as mulheres dividem as mesmas responsabilidades com os homens, sendo economicamente independentes e, portanto, não se sujeitando à farsa de um casamento mal consumado, rabinos retrógrados e misóginos as condenam, no seu desejo de começar uma nova vida.
Se pensarmos de que uma criança é considerada judia pois assim o é sua mãe, esse paradigma é ainda mais assustador.
Aflige-me pensar que há mulheres que chegam ao processo de divorcio muito mais fragilizadas do que eu.  Não têm uma carreira definida, e dependerão economicamente da pensão de seus ex maridos que, em muitos casos, será obtida litigiosamente.  Esse náo era meu caso, o que não me libertou de, naquele momento, experimentar um sentimento extremamente doloroso, com um repudio imenso à atuação daqueles ditos homens de fé.
Como se fosse função da mulher se prender a algemas não desejadas.  Como se, ao homem, fôsse dado o papel de mero consentidor.
Nao me casei mais, e não o faria segundo as leis judaicas.   Tenho contado minha experiencia a muitas mulheres.   Somos muitas, infinitivamente mais fortes do que as prelações mal intencionadas de rabinos frustrados.  Filhos de mães, maridos de esposas, pais de filhas.  Nem por isso, sensiveis e corretos conosco, mulheres.  Ao contrario, verdadeiros algozes.

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