Seguidores

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

MURMURIO DE BOA NOITE

Há um coro de silencio lá fora.
Resolvi viajar para a China, pois la sou amiga do rei, numa distancia bem longa, onde só eu seja apaixonada por minhas palavras.
Visitarei a Mongolia e as torres do sem fim, e as escadas de plantações  de arroz, nunca se sabe.
Descerei leste afora pelo Laos, completamente inóspito em minha imaginação.  E declamarei o coro de vozes, ao som das crianças do Vietnam.
Encontrarei uma ilha solitaria no Pacífico, e aproveitarei meus dias pensando em água, cocos, e além mar.
Sobrevoarei paisagens de que não conheço, na ansiedade de me sentir fora do planeta.  Ouvirei linguas estranhas, e enfrentarei desertos de calor e neves ousadas, entre rostos loiros e amarronzados, privilegio antropológico da raça humana.
Voltarei a um tempo muito antigo, com jaleco branco, circulando por entre as passagens de uma faculdade.  E não saberei a hora da aula de anatomia comparada, para fugir ao cheiro de formol do laboratorio.  Corpos humanos abertos para dissecação não são interessantes, apenas na memoria do relativo.
Percorrerei as idas e vindas do movimento estudantil, em toda sua ousadia e crença, mulheres e homens, carentes em sua permissividade.  Um ideal a acreditar pelas costas, e a vontade de ser feliz.
Encontrarei minha mãe, velhinha, do alto de sua senilidade, a me sondar os caminhos do coração, no eterno reflexo de nossas duas vidas.  Sorrirei, a quem se fez criança, outrora so uma mulher.
Ondas que batam na espuma branca da areia que dorme, eis me sem paradeiro, pois o mundo é grande, as letras inúmeras, e a emoção uma só.
Doce silencio de Shabbat lá fora, o frio que atravessa meu corpo, e que pede aconchego. O livro à mostra, para que eu me delicie, e as páginas viradas do lido que já se foi.
O barulho lá fora é sutil, como o é o do meu coração.   A escrita vem, presenteia, se cala, e eu sigo olhando o obvio, sem mais, tristeza.
Areia que bate, ondas ao mar, todos os cenarios, em suas inumeras paisagens.
Eu, mesma, lida por milhares, como se a aprovação fosse requisito para o ser.
Ainda há sorrisos, e mesmo gargalhadas.  Passagens, doces rios e cachoeiras.  Norte a Sul, nada mais do que uma imagem.  Para eu me sentir inteira, sem medo do belo.
A tela nua, à minha frente, me convida à pintura que vira, pois preciso de mais lilás à minha volta, com o preto dizendo sim.  Ou não.
Todas as formas que estimulem minha sublimação e a fuga do momento em que o mundo dos homens se faça real.
Poesia e cores, passeios sem arrependimento, e chegada a fartura dos morangos, campos com colhedores oriundos de paises pobres.  Para que nós, privilegiados, nos refastelemos.  Captarei, ao som de minhas imagens, para não me olvidar de que sou uma furtuita observadora do ser.
O tempo urge, parado, e faz nota com a solidão do não estar alegre, ou triste, mas só em vida.
E vou dizendo adeus, como um murmurio, sem notas ou cores, de volta ao sonho e ao branco, de que de tudo toma conta.   Amanheça o Sol, supere a noite, e me acorde abraçada, num doce enlevo de bom dia.  E ai sorrirei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário