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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

RABIN SE FOI ( ODE AO LAMENTO )

Israel é o palco de um dos momentos mais contundentes que ocorreram em minha vida.
Um ato público, na praça mais conhecida de Tel Aviv.  Um palanque composto somente por setores progressistas, e uma esperança no ar.  Tão compartilhada quanto, o evento é transmitido pela televisão, e contagia a todos que esperam uma mudança significativa, no mapa desse pais tão conflitado.
Discursos, música, e seu fim.  Hora de nos voltarmos à vida individual, e apenas sonharmos com o coletivo.
Mas o tempo não é significativo para que tenhamos a aparição de um locutor, em nossas imagens, chorando.  Rabin foi baleado e se encontra em sala de operação.
Os minutos não são longos ou, quem sabe, intermináveis.  O mesmo homem, cuja função de longe não lhe apraz, volta a nós com a derradeira noticia.  Assassinato e morte.
Guardo a lembrança dessa semana de luto pois, em mesmo querendo, minha memoria não ousaria esquecer.  Pessoas chorando aos cantos, cabisbaixas, notoriamente incrédulas.
O motivo nem ao menos se ascendeu como o mais importante.  Todos nós tornamos vítimas da pequenez do destino.
Em um momento, a comemoração, o porvir e, já noutro, o verdadeiro luto.
Não cabem em mim palavras para descrever esse átimo de dor que, seguramente, em minha vivencia nesse solo, foi o mais terrivel.  Por todos os elementos de que se compõe uma historia : fanatismo, fragilidade, e uma impotencia capaz de nos devorar a todos.
Rabin estava protegido por guarda costas, o que não arrefeceu a vontade tirana de seu algoz. Encontrava-se a poucos metros de seu carro, mas não foi à sua casa que retornou.  Mais uma vez se concretizou a sina dos visionarios, especialmente no Oriente Medio.
Penso que seu assassinato tenha sido um divisor de águas para a minha concepção do que é o acreditar.  De como, principalmente, o fundamentalismo espalha sua força carregada de odio, globo afora.  Aqui só foi um registro do que nos tocou mais ao âmago.
Com certeza, uma palavra piedosa não deva ter sido murmurada por esse rapaz, louco.  Quantos perambulam mundo afora, encimados em suas certezas de vingança ?  Que preço pagarão os sonhadores por sua utopia ?
Rabin se tornou uma imagem muito carismática, e seu passado, como militar, não se lhe ofuscou a derradeira inspiração para que lutasse por mais igualdade.
Comparo a vida de Rabin a de Begin, o primeiro morto em seu apogeu, o segundo no ostracismo, por uma decisão pessoal.  De como o resguardo possa, em tese, permitir que o individuo se volte à dimensão de sua propria vida, sem grandes desafios.  Precisa-se de coragem para abraçar o ideal de novas gerações, e o preço pode ser muito alto.
Ainda no impacto do assassinato dele, me lembro de que ocorreram, sucessivamente, varios atentados terroristas. Então não se há a quem culpar.  A ocasião faz seu sentido, e a morte é uma palavra em uníssono.
Esse é meu derradeiro momento de dor nesse pais, no qual já habito por tres décadas.  Que me acolheu, não menos do que o solo onde nasci.  Onde compactuei desejos de um futuro melhor, não manchado de sangue.
Aos mortos, nosso tributo.  Assassinados, nosso lamento pela covardia, e falta na crença de que o caminho so possa ser a paz.  Porque, nela acenando, se esquecerão os odios, e permanecerá a virtude.
Uma geracao, que passou um momento de desalinho tao grande, nao consegue transmitir esse sentimento a seus descendentes.  O aniversario de sua morte e reverenciado de uma forma solene, mas distante.  Mesmo porque nao exista ares de mudanca, que se configurem no ceu de um pais chamado Israel.
Os mortos nos falam ?  Que nos diria Rabin ?  Para nao arrefecermos.  Mas sua voz se tornou tao longiqua quanto seu legado, ou a insistencia demagogica de presentear uma rua, em cada cidade, com seu nome.
A vida deve ser algo diferente.  Mas o mundo dos homens e muito caotico para o admitir.  E existirao outros que pagarao pela sua audacia, e vontade de ver mais longe.
Nao ha duvida de que a humanidade se alimente do mediocre.  Pela simples e ordinaria limitacao dos seres humanos.  Dos que ditam e obedecem. Daqueles que empunham armas pelo gosto ao poder.
Com certeza, a morte de Rabin levou um pedaco do que e meu.  E nem poderia ser diferente, posto que sou humanista, e desafio o sentido das guerras, ainda que feitas por um so homem.  Um pouco da minha pureza, e de milhares, se curvou ao destino de tamanha atrocidade.
Continuamos aqui, incompletos e carentes.  Ele se foi.  Num quatro de novembro, e so.

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